Mas a ponte já n ficava longe. Depois, a ladeira e no meio da ladeira, a casa.
-Vamos lá com Deus! - fazia ele animando-se.
Pensando bem, eu sou uma grande artista… Senão repara nisto: estou em cima de uma carrinha, majestosa e linda…e tu? Tu estás aí, quão artista raso a tirar fotografias do chão… Sim! do chão!
Vamos, coragem… toda a sabedoria porque anseias está aí dentro….não hesites… basta um simples passo para que desapareças na sombra da escuridão e te arrastes ate à luz…
Sim! Há luz desse outro lado!
Surge às vezes um arrepio nestas ruas que me apaga a alma… é um vento cortante, arrepiante, fantasmas esvoaçantes que passam por mim: tudo em fracções de segundos…
Chego a pensar que todo o passado me passa a frente, e depois levo os olhos aos céus….Oh, que doce azul-escuro de encantar.
Aprisionei-me para não me deixar sair… Quero viver aqui. Triste, só e abandonado: é assim que gosto de me sentir… Vão-se embora! Esta é a minha hora do sono, quero estar sozinho…
Olha que giro é não mexer os braços. Sua cambada de braços não inertes filhos da mãe. Não sabem da maldição de viverem com cara enrugada e granulosa, sempre com um homem debaixo das saias. Estar fechada durante o ano num armazém para no único dia que saio andar feita parva à procura do passado que nunca tive e do futuro de que nunca me lembrei poder ter. E se não encontro não é por falta de não olhar à minha volta. Aquele barulho infernal atrás de mim com mais bum e bam que a guerra quente (se existiu a fria tem de haver por força uma quente). Matem-me, por favor.
Defende-me do fogo e das meretrizes com artrite. Não é que me incomode tanto como o fogo, mas é que se queixam tanto que depois já não lhes consigo extorquir os lucros integrais por descargo de consciência. Eu gosto é de ver os putos passar pela rua, todos felizes e bem disfarçados. São coisas de que uma pessoa não se lembra atrás das janelas fumadas. Tenho uma que é raquítica e diz que fui eu que lhe dei a avitaminose, coisa que nem o médico consegue concordar. Será que na tua terra não havia peixe nem ovos? Até ela teve de admitir que aquela curvatura, às vezes, dá jeito.
Cabeça grande só pode significar estupidez, bruteza de cérebro. E, se não, vejam a maneira imbecil e dotada de falta de equilíbrio com que mexem os braços. Isso diríamos se não víssemos a pileca que carrega a monstruosa cabeça. Mais estúpido terá de ser por carregar peso inecessário o homem que o leva. Ainda há desculpa para o primeiro “Ah e tal pá, a inevitabilidade da transferência do genótipo e as variâncias sócio-culturais.” Mas agora para o homem de cabeça pequenina e minimamente inteligente devia haver alguém que lhe desse duas bofetadas e lhe dissesse “Ó pá! Tu achas que é boa ideia pores um fato de palhaço e andares às voltas com os bracinhos a dar a dar. Estás a tentar gozar com as pessoas que têm deficiência mental.” Ao que ele responderia “No Carnaval ninguém leva a mal.”
Carnaval eterno.
Estou feliz porque estou contente. Não me lembrarei dos monstros debaixo da cama nem no armário desde que me pintes de vermelho rosa e azul. Do meu papá a bater na minha mamã. Do meu irmão que me puxa os cabelos. Da minha tia que me dá muitos beijos que cheiram a cigarro. Do meu avô que me explicou que sou hipócrita. Mundo de cor, luz e imaginação.
Espectros mirabolantes aparecem uma vez por outra para nos iluminar de assombro. Aparte do mundo e expirando por feitio. Parecem reais menos quando partem e nos apercebemos do resto do mundo. O resto do mundo não é o mesmo, por isso, não os vemos iguais. Não se lembram do passado, por isso nos visitam, para não esquecer que não há nada para lembrar. A desgraça é quando nos lembramos de que os espectros somos nós.
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